segunda-feira, 18 de agosto de 2014

História do órgão: Origem e evolução durante o período greco-romano

Etimologia


Etimologicamente, a palavra "órgão" advém da palavra grega "órganon", que significa  "o instrumento". Este facto indicia que o órgão era considerado o instrumento por excelência, tendo sido o primeiro mecanismo organizador de sons composto por vários elementos diferentes. Mereceu inclusive, a partir do período final da Idade Média, o epíteto de "o rei dos instrumentos", o qual terá sido inicialmente atribuído por Guillaume de Machaut, nome maior da Ars Nova e de toda a música medieval. O seu reconhecimento continuou a aumentar após a Idade Média, tanto na música sacra como na música secular, tendo recebido, muito mais tarde, o mesmo epíteto de grandes vultos da música universal, como é o caso do compositor austríaco Wolfgang Amadeus Mozart.

Origem


Alguns autores defendem que o órgão teve como seu antecessor a flauta de Pan e citam a Bíblia, nomeadamente o Livro de Génesis do Velho Testamento, que refere Jubal, filho mais novo de Lameque e Ada, como sendo o pai dos músicos e o inventor da harpa e da flauta. Estes autores apontam também para a possibilidade de os Hebreus terem utilizado alguns instrumentos rudimentares com um princípio mecânico semelhante ao do órgão, citando, por exemplo, o Livro, de Job, também do Velho Testamento.

"Levantem a voz, ao som do tamboril e da harpa, e alegrem-se ao som dos órgãos" (Jo, 21-12)
 
No entanto, apesar de a palavra "órgão" aparecer diversas vezes na tradução portuguesa da Bíblia, isto não significa necessariamente que um instrumento com características que o possam incluir no grupo dos órgãos fosse conhecido e utilizado pelos Hebreus nos períodos bíblicos. De facto, os textos que compõem a bíblia, desde que foram descobertos na sua língua original, foram sendo traduzidos de umas línguas para as outras, e consequentemente, transformados ao longo do tempo de acordo com o critério dos tradutores, não havendo certeza sobre o verdadeiro significado da palavra "órgão".
As dúvidas quanto à possibilidade de se tratar de um instrumento semelhante ao órgão são ainda maiores quando se sabe que a palavra (a qual também poderá ser uma tradução de uma tradução da palavra original) a partir da qual se fez a tradução para "órgão" é "ugab", que em hebreu significava um instrumento de vento, podendo, assim, tratar-se de simples flautas.


Mas é inegável a semelhança entre a flauta de Pan e o órgão.



Reconstrução moderna da flauta de Pan que terá sido usada originalmente pelos pastores do arquipélago das ilhas Cíclades aproximadamente 3000 anos antes de Cristo - Museu dos instrumentos musicais da Grécia Antiga, Katakalon, Grécia - Fonte

Há também vestígios da utilização de instrumentos semelhantes à flauta de Pan em culturas não ocidentais muito antes do nascimento de Cristo, dos quais se pode referir, como exemplo, as duas Pai Xiao (c. 435 a. C.) em bambu descobertas na China em 1978 no túmulo de Yi, o marquês de Zheng.



Pai Xiao em bambu (c. 435 a. C.) descoberta no túmulo de Yi, o marquês de Zheng em Suixian, província de Hubei, China. Museu de Hubei, Wuhan, China. Todos os direitos da imagem pertencem ao Museu de Henan. - Fonte


O primeiro vestígio concreto de um estágio intermédio na evolução da flauta de Pan para o órgão foi encontrado na Síria. Trata-se de um achado arqueológico anterior ao nascimento de Cristo originário da antiga Cilícia no qual se pode ver o torso de uma figura humana tocando um instrumento que consiste em uma série de tubos ligados àquilo que parece ser uma caixa de ar. Uma das mãos parece accionar uma alavanca responsável pela compressão do ar enquanto a outra parece controlar o som do instrumento na parte frontal deste.

Primeiro vestígio arqueológico de um instrumento que associa uma flauta de Pan a uma caixa de ar. Desenho de uma relíquia da antiga Cilícia descoberta na Síria. Lares and Penate: or Cilicia, and its Governors, William Burckhardt Barker (1853) - Fonte



Há também registos referentes a um órgão de tubos inventado por Arquimedes, cerca de 229 anos antes de Cristo.
Mas, sendo o órgão um mecanismo compósito constituído por diversos elementos, pode assumir-se que o aparecimento do órgão só sucede quando todos os seus elementos básicos estão reunidos numa só máquina.
Os elementos essenciais que constituem o órgão são:
  • os tubos que produzem o som;
  • a câmara de armazenamento de ar comprimido;
  • o mecanismo de compressão do ar;
  • o sistema de acesso do ar aos tubos controlado por um teclado.
A maioria dos historiadores, atendendo aos vestígios e às referências históricas conhecidos até à data, atribui a Ctesibios de Alexandria a invenção do primeiro instrumento que reúne todos estes elementos - o órgão hidráulico. (hydraulis / water organ)


Aparecimento do órgão hidráulico na Grécia antiga


A origem deste instrumento remontará ao século III a. C. (Ptolomeu VII) quando Ctesibios de Alexandria, um engenheiro da Grécia antiga, inventou um órgão, que segundo a descrição do matemático e engenheiro grego, Hero de Alexandria, era um instrumento que consistia numa caixa de água onde havia uma bomba de ar accionada manualmente e que dispunha de um grande teclado que controlava a saída do ar pelos 8 a 10 tubos.

Órgão hidráulico de Ctesibios segundo a descrição de Hero de Alexandria. Ilustração do livro Denkmäler des klassischen Altertums (Monumentos da Antiguidade Clássica), de 1885, volume 1, página 565 - Fonte


Esquema de funcionamento do órgão hidráulico de Ctesibios segundo a descrição de Hero de Alexandria. Ilustração do New Grove dictionary of Music and Musicians (1980) - Fonte


Reconstituição moderna a partir da descrição de Hero de Alexandria do órgão hidráulico de Ctesibios. Musée Suisse de l'Orgue, Roche, Suiça  - Fonte


O mais antigo vestígio arqueológico de um órgão hidráulico foi descoberto em Dion, na Grécia, na base do monte Olympus, durante uma escavação dirigida pelo professor Dimitris Panternalis em 1992. Trata-se de um conjunto de pedaços de 19 tubos de bronze e de uma caixa horizontal metálica, que está exposto no Museu de Arqueologia de Dion, na Grécia. Já foram feitas várias reconstituições modernas deste órgão mas a mais importante, e que terá resultado no instrumento mais semelhante ao original, terá sido a que foi desenvolvida na Grécia pelo European Cultural Center of Delphi, sob a direcção do professor Panternalis.


Vestígios arqueológicos de um órgão hidráulico (c. séc. I a. C.) encontrados em 1992 numa escavação dirigida pelo professor Dimitris Panternalis na cidade de Dion, Grécia - Museu de Arqueologia de Dion, Grécia - Fonte


Reconstituição moderna do órgão hidráulico de Dion desenvolvida pelo European Cultural Center of Delphi (ECCD) entre 1995 e 1999 - Fonte

Pormenor dos tubos e do teclado na reconstituição moderna do órgão hidráulico de Dion desenvolvida pelo European Cultural Center of Delphi (ECCD) entre 1995 e 1999 - Fonte




Panos Vangopoulos tocando a reconstituição moderna do órgão hidráulico de Dion com Spyros Sakkas na voz. Vídeo The ancient hydraulis filmado pelo European Cultural Center of Delphi (ECCD) e dirigido por Maria Papaliou - Fonte


De entre as representações do órgão de Ctesibios na arte da Grécia Antiga pode destacar-se uma estatueta em terracota do século I a. C. encontrada em Alexandria, no Egipto, representando dois músicos, e estando um deles a tocar o órgão.


Órgão hidráulico de Ctesibios. Estatueta em terracota (sec. I a. C.) descoberta em Alexandria, Egipto. Todos os direitos da imagem pertencem ao Museu do Louvre, paris, França - Fonte




Órgão hidráulico e o Império Romano


O órgão hidráulico de Ctesibios esteve em uso durante vários séculos em todo o Império Romano, sendo considerado um dos grandes avanços tecnológicos da antiguidade greco-romana.
Por volta do ano 20 d. C., o arquitecto e engenheiro romano Vitruvius concebeu, a partir do órgão de Ctesibios, o órgão hidráulico que seria muito utilizado no império romano figurando em vários vestígios arqueológicos da época. Este órgão tinha um princípio de funcionamento em tudo idêntico ao de Ctesibios com a diferença de ter duas bombas de ar em vez de uma e, em alguns casos, vários registos (stops).


Esquema de funcionamento de um órgão hidráulico de Vitruvius  com 4 registos (stops). Ilustrações do livro Vitruv, Zehn Bücher über Architektur, Darmstadt (1964) - Fonte


Esquema de funcionamento do órgão hidráulico de Vitruvius - Fonte


Os vestígios de dois órgãos, que poderão ser os achados arqueológicos mais antigos referentes ao órgão de Vitruvius, foram encontrados em Pompeia, cidade romana que foi destruída completamente pela erupção do vulcão Vesúvio no ano de 79 d. C.. Estes órgãos, dos quais apenas foram recuperadas as placas decorativas das caixas e os tubos em bronze e que podem hoje ser vistos no Museo Archeologico Nazionale de Nápoles, assemelham-se muito aos órgãos portáteis da Idade Média. Como não foram encontrados quaisquer vestígios de foles ou de mecanismos hidráulicos junto a estes órgãos, persiste a dúvida se seriam órgãos hidráulicos ou pneumáticos, e mesmo, tendo em conta a sua reduzida dimensão, se seriam realmente órgãos.


Fragmento em bronze de um (o maior que tem 11 tubos) dos dois órgãos hidráulicos encontrados em Pompeia . Museu arqueológico de Nápoles, Itália. Foto tirada por Karl que detém todos os direitos sobre a imagem que está partilhada no Flickr - Fonte

Fragmento em bronze de um (o maior) dos dois órgãos hidráulicos encontrados em Pompeia. Ilustração do livro The Story of the Organ de C.F. Abdy Williams, publicado em 1903 por Walter Scott Publishing and Charles Scribner's Sons - Fonte


Fragmento em bronze de um (o mais pequeno que tem apenas 9 tubos) dos dois órgãos hidráulicos encontrados em Pompeia . Cópia existente no Gemeetemuseum Den Haag, Holanda. Peça original existente no Museu arqueológico de Nápoles, Itália - Fonte

Um dos vestígios mais importantes encontrados até hoje, do que poderá ter sido o órgão de Vitruvius, é sem dúvida, pela sua magnitude e pelo muito bom estado de conservação, as cerca de 400 peças em bronze de um órgão descobertas em 1931 na antiga colónia romana de Aquincum, localizada perto de Budapeste, na Hungria. Este órgão terá sido construído por volta do ano 228 d. C. e foram feitas várias reconstituições do mesmo após a sua descoberta. As peças originais e uma reconstituição moderna do órgão estão expostas no Museu de Arqueologia de Aquincum em Budapeste na Hungria. Neste link podem ver uma reportagem fotográfica de uma visita ao museu.
No entanto, não foram encontrados quaisquer indícios da existência de um mecanismo hidráulico ou de foles associados a este órgão persistindo ainda a dúvida se seria um órgão hidráulico ou um órgão pneumático.


Cerca de 400 peças de um órgão hidráulico, em bronze (c. 228 d. C.), descobertas em 1931 na Colónia romana de Aquincum. Museu de arqueologia de Aquincum, Budapeste, Hungria - Fonte


Primeira reconstituição do órgão hidráulico de Aquincum - Fonte


Reconstituição moderna do órgão hidráulico de Aquincum. Museu de arqueologia de Aquincum, Budapeste, Hungria - Fonte


Escultura com a reconstituição do órgão hidráulico de Aquincum, existente nos jardins à entrada do museu. O museu é famoso principalmente por causa do órgão. Museu de arqueologia de Aquincum, Budapeste, Hungria - Fonte


Outros vestígios importantes que, juntamente com a descrição de Hero de Alexandria, permitiram uma mais apurada reconstituição do órgão hidráulico de Vitruvius foram, sem dúvida, a lâmpada a óleo de cerâmica representando um órgão hidráulico (c. séc. I-II d. C.), descoberta na Tunísia nas ruínas de Cartago em 1885, e o grande mosaico da vila romana de Nenning (c. séc. II d. C.), descoberto em Nenning, na Alemanha, em 1852, representando cenas das lutas de gladiadores. A importância destes vestígios para a reconstituição dos órgãos hidráulicos deve-se ao elevado grau de detalhe com que o órgão está representado e ao seu muito bom estado de conservação.


Lâmpada a óleo em cerâmica do séc. I-II d. C representando o órgão hidráulico de Vitruvius descoberta em 1885 nas ruínas de Cartago. Carthage National Museum, Tunísia - Fonte

Pormenor de um órgão hidráulico romano a ser tocado durante as lutas de gladiadores. Grande mosaico de Nenning (c. séc. II d. C.) descoberto em 1852 que cobre completamente o chão de uma vila romana em Nenning, Alemanha.  - Fonte


Modelo de Thereon de 1904 da reconstituição do órgão hidráulico de Vitruvius a partir da lâmpada a óleo em cerâmica encontrada em Cartago. Página do jornal Ilustrated London News  - Fonte


Reconstituição do órgão hidráulico de Vitruvius desenvolvida por Rev. F.W. Galpin a partir do modelo de Thereon. Ilustração do livro The Story of the Organ de C.F. Abdy Williams, publicado em 1903 por Walter Scott Publishing and Charles Scribner's Sons - Fonte


Ao longo do tempo têm sido desenvolvidos vários projectos de reconstituição do órgão hidráulico tendo como base os vestígios e a documentação encontrados. Deixam-se aqui alguns exemplos, incluindo vídeos em que se pode ouvir o seu som.


Esquema de funcionamento do órgão hidráulico de Vitruvios usado para a reconstituição do órgão pertencente ao Museum of Ancient Greek Technology, Katakolon, Grécia - Fonte


Reconstituição moderna do órgão hidráulico de Vitruvius. Museum of Ancient Greek Technology, Katakolon, Grécia - Fonte


Apresentação ao vivo do órgão hidráulico de pertencente ao Museum of Ancient Greek Technology, Katakolon, Grécia


Reconstituição moderna do órgão hidráulico de Vitruvius por Ensemble Musica Romana - Fonte


O grupo Ensemble Musica Romana numa apresentação ao vivo tocando o seu órgão hidráulico que é uma reconstituição do órgão hidráulico de Vitruvius


De acordo com os vestígios da época, dos quais se destaca o mosaico dos gladiadores de Zliten (c. séc. II d. C.) descoberto em 1931 na Villa Buc Ammera, em Zliten, na Líbia, o instrumento era utilizado em actuações de palco, no teatro, durante as lutas de gladiadores e em outros eventos nas arenas (provavelmente anunciando o início e fim dos combates), e mesmo pelo cidadão comum em casa. Segundo as referências históricas, os músicos, pelo menos no início do império romano, eram normalmente escravos oriundos da Grécia, cuja arte e cultura, nomeadamente a música, eram admiradas pelos romanos. Sendo um instrumento que exigia um elevado grau de especialização e de treino para ser tocado, era frequente ser tocado por escravas de origem grega que se dedicavam desde cedo à sua prática.


Pormenor do mosaico reconstruído dos gladiadores de Zliten com músicos acompanhando a luta de gladiadores e eventos com animais selvagens na arena (c. séc. II d. C.) descoberto em 1913 na Villa Buc Ammera em Zliten, Líbia. Da esquerda para a direita pode ver-se a tuba, o órgão hidráulico, duas bucinas e os gladiadores - Museu de Arqueologia de Tripoli, Líbia - Fonte


Pormenor do mosaico dos gladiadores de Zliten com músicos acompanhando a luta de gladiadores e eventos com animais selvagens na arena (c. séc. II d. C.) descoberto em 1913 na Villa Buc Ammera em Zliten, Líbia. Da esquerda para a direita pode ver-se a tuba, o órgão hidráulico, duas bucinas e um gladiador - Museu de Arqueologia de Tripoli, Líbia - Fonte


No entanto, o órgão, assim como outros instrumentos musicais, terá começado a popularizar-se e a ganhar alguma notoriedade, havendo nos documentos históricos referência ao facto de o órgão hidráulico ser um dos instrumentos tocado por alguns imperadores romanos. Destes, pode destacar-se Nero que ao longo da sua curta vida terá inclusive participado e vencido (talvez sem grande justiça) vários concursos públicos como intérprete deste instrumento. O facto de tanto durante o seu reinado (54-68 d. C.) como no de Trajano (98-118 d. C.) e de Valentiniano III (425-455 d. C.) que foi um dos últimos imperadores romanos, algumas moedas terem órgãos hidráulicos representados é revelador da importância e prestígio que este instrumento foi ganhando durante todo o império romano.



Moeda romana com um órgão hidráulico representado utilizada durante o reinado do imperador romano  Nero (54-68 d. C.). Brithsh Museum, Londres, Inglaterra - Fonte 1 Fonte 2


Moeda romana com um órgão hidráulico representado utilizada durante o reinado do imperador romano  Nero (54-68 d. C.) - Fonte


Moeda romana com um órgão hidráulico representado utilizada durante o reinado do imperador romano  Trajano (98-118 d. C.) - Fonte


Moeda romana com um órgão hidráulico representado utilizada durante o reinado do imperador Valentiniano III (425-455 d. C.) - Fonte


Outro indício revelador da importância do órgão hidráulico no império romano é o facto deste instrumento se encontrar também representado em várias lápides e sarcófagos da época.


Órgão hidráulico representado na lápide de Giulia Tirrania. Museu arqueológico de Arles - Fonte


Órgão hidráulico. Pormenor de uma inscrição num sarcófago descoberto em Roma (c. séc. I d. C.). Museo Della Civiltà Romana, Roma, Itália Imagem retirada da DeA Picture Library, com todos os direitos pertencentes a Alinari - Fonte


Também na literatura do período greco-romano há inúmeras alusões ao órgão hidráulico, das quais se pode destacar um poema concreto de Plubilius Optatianus Porfirius (c. 324 d. C.), que tem 26 linhas dispostas verticalmente, sendo que cada uma delas tem mais uma letra do que a anterior, assemelhando-se assim a um órgão com 26 tubos. A base dos tubos é uma linha disposta horizontalmente, constituída por 26 grandes letras maiúsculas. Por baixo desta linha, o poema tem 26 linhas dispostas verticalmente, todas elas com exactamente o mesmo número de letras, representando um teclado.


Poema concreto de Plubilius Optatianus Porfirius (c. 324 d. C.) sobre os recentes festejos das vitórias militares do Imperador e de Cesar e sobre a ausência forçada do poeta nos mesmos, que tem a particularidade de apresentar as linhas dispostas na forma de um órgão - Fonte

Tertuliano (c. 160-225 d. C.), um padre e advogado da província romana de Cartago, e um dos primeiros cristãos a produzir obra literária com considerável extensão, referindo-se ao órgão hidráulico como invenção de Ctesibios, que terá sido posteriormente melhorado por Arquimedes, exaltou a sua grandiosidade e musicalidade escrevendo:

"Observe the extraordinary genius of Archimedes. I speak of the Hydraulus. What members, what parts, what joinings, what rows of pipes, what a compendium of sounds, what an intercourse of modes, what troops of tibiae, and all composing a great whole! That spirit, which breathes from the trouble of the water, is administered through the parts, is solid in substance, divided in operation."



Queda do Império Romano do Ocidente e desaparecimento do órgão na Europa


Ainda durante a existência do Império Romano do Ocidente, e após um período de grande expansão, o órgão hidráulico começa a deixar de ser utilizado e a cair no esquecimento.
Vários factores terão contribuído para o seu desaparecimento, o qual não se deveu apenas à destruição e ao "retrocesso cultural" trazidos pelas invasões bárbaras e pela queda do Império Romano. De facto, o desaparecimento do órgão hidráulico no ocidente parece estar intimamente ligado não só ao declínio e queda do Império Romano do Ocidente, mas também à ascensão e hegemonia cultural crescente da religião cristã.
É com a crise do terceiro século (235-284 d. C.), na qual o império é assolado pela guerra civil, pelas invasões bárbaras, pela depressão económica, pela peste, e pelas perseguições religiosas aos cristãos, que se inicia o processo de cisão do Império Romano em dois - o Império Romano do Oriente e o Império Romano do Ocidente -, e que o declínio começa a ser evidente. A cisão do império tornar-se-ia definitiva após a morte do imperador Teodósio I,  em 395 d. C..


Batalha da ponte Milivian (28 de Outubro de 312) entre os imperadores romanos Constantino I e Maxentius no rio Tibre. Esta foi uma de muitas batalhas, de várias guerras civis, que assolaram o Império Romano durante o seu declínio. Terá sido antes desta batalha que Constantino, o Grande,  alegou ter tido uma visão do Deus cristão prometendo-lhe a vitória se o seu exército usasse o Xi-Ró, (o cristograma de Constantino), que passaria a ser  o símbolo usado pelo seu exército. Pintura (1520-1524) de Giulio Romano. Palácio Apostólico, Vaticano - Fonte


Átila, (que ficou conhecido no império como o Flagelo de Deus) comandando a sua horda de Hunos na batalha de Chalons, na Gália, numa carga de cavalaria. Os Hunos, que fizeram várias incursões no interior  do Império Romano, semeando a morte e a destruição e inspirando o terror na população, foram uma das muitas tribos bárbaras que assolaram o império durante o seu declínio, até à sua queda final. Ilustração de Alphonse De Neuville (1836-1885) em A Popular History of France From The Earliest Times Volume I - Fonte


Mapa representando a cisão do Império Romano em quatro prefeituras, que sucedeu imediatamente após a morte do imperador Teodósio I  (395 d. C.), e das quais resultariam o Império Romano do Ocidente e o Império Romano do Oriente. No mapa pode ver-se a pressão das tribos bárbaras a Norte e Leste, nomeadamente os Pictos, os Escoceses, os Saxões, os Francos, os Alemães, os Burgúndios, os Vândalos, os Suevos, os Ostrogodos, os Visigodos, os Hunos e o Império Persa - Fonte


Peste Antonina, que se pensa ter sido causada pelo vírus da Varíola ou da Rubéola, foi uma das mais letais do mundo antigo, e assolou o Império Romano entre 165 e 180 d. C., tendo sido responsável pela morte de cerca de 5 milhões de pessoas, incluindo 2 imperadores romanos. Esta peste terá ressurgido durante a crise do terceiro século por volta de 251 d. C., tendo ficado conhecida para a história por peste de Cipriano, e, segundo os relatos da época, terá sido responsável pela morte de 5000 pessoas por dia em Roma - Fonte

Descoberta arqueológica em Gloucester, Inglaterra (2008) de uma vala comum contendo 91 cadáveres (homens, mulheres e crianças) que se pensa ser de vítimas da Peste Antonina - Fonte


O Imperador Constantino I, o Grande, converte-se ao cristianismo e muda a capital do Império para uma nova cidade do médio oriente, que funda, baptizando-a de Nova Roma (actual Istambul na Turquia), e que viria a chamar-se Constantinopla.
Mais tarde, ainda com o império unificado, o imperador Teodósio I proclama o cristianismo como religião oficial de todo o império. É a partir deste momento que o cristianismo deixa de ser uma religião perseguida e minoritária, começando a deter um grande poder que se manifesta, de forma crescente, em quase todos os aspectos da vida cultural, social, política e artística.


O imperador Constantino I, o Grande, (à direita) oferecendo um modelo da cidade de Constantinopla e o imperador Justiniano I (à esquerda), oferecendo um modelo da catedral de Santa Sofia, à Virgem Maria, que tem o Menino Jesus ao colo. Grande mosaico (c. 944 d. C.) existente sobre a entrada sudeste da Catedral de Santa Sofia, Istambul, Turquia - Fonte


Moeda de Magnentius com o Cristograma de Constantino (Xi Ró) no verso. Este símbolo, que é a sobreposição das letras Xi e Ró, que são as primeiras duas letras das plavara grega "Χριστός" ("Cristo"), passaria a ser o símbolo do Império Romano, sendo usado em moedas, nos escudos, nos estandartes, nas vestes dos soldados, em edifícios, etc. a partir de Constantino, o Grande. - Fonte


O disco de Teodósio I - Missorium -, último imperador do Império Romano unificado, responsável pela proclamação do cristianismo como religião oficial de todo o império. Réplica moderna exposta no Museu Nacional de Arte Romana em Mérida, Espanha, a partir do original existente na Real Academia de la História em Madrid, Espanha- Fonte


Assim, de forma resumida, os principais factores que poderão estar associados ao desaparecimento do órgão podem dividir-se em 2 grupos.

Os que estão directamente associados ao declínio e queda do Império Romano do Ocidente:
  • A eclosão de várias guerras civis motivadas pela luta pelo poder, e a sucessão de assassinatos e deposições de imperadores, que tinham reinados curtos e conturbados, numa sociedade manchada por uma grande corrupção;
  • Império demasiado vasto para poder ser defendido e controlado de forma eficaz a partir de um poder central;
  • A pressão nas fronteiras imposta por vários povos bárbaros que, ou faziam cada vez mais regulares incursões nos territórios do Império, saqueando e destruindo tudo à sua passagem e aproximando-se inclusive perigosamente de Roma, ou exigiam cada vez maiores tributos para se manterem fora das fronteiras;
  • Crescente desconforto dos povos sob o domínio do império romano motivados pela insegurança e pelos enormes tributos que lhes eram exigidos para o esforço de guerra e para a vida opulenta dos cidadãos e das classes dirigentes de Roma;
  • A grande depressão económica que assolou o império durante a crise do terceiro século;
  • A peste Antonina (c. 165-180 d. C.) e a peste de Cipriano (c. 251 d. C.) que mataram milhares de pessoas em todo o império;
  • Algumas das incursões bárbaras no interior do Império culminaram mesmo no saque das principais cidades do Império, como Roma e Ravena, e na deposição do último imperador romano do ocidente, Rómulo Augusto, por Odoacro, rei dos Germanos. A deposição de Rómulo Augusto assinala a queda do Império Romano do Ocidente (476 d. C.), e dos saques resultou a destruição de muitos dos edifícios destinados à cultura, como é o caso dos teatros.
  • Neste contexto, havia cada vez menos recursos aplicados à música e à cultura em geral, a população, que decrescia cada vez mais em número (a população da cidade de Roma terá decrescido dos cerca de 1 milhão de habitantes no apogeu do império para os cerca de 17.000 em 846 d. C.), tinha cada vez menos entusiasmo para assistir a este tipo de espectáculos. O facto de o órgão hidráulico ser um instrumento de grandes dimensões, com um processo de fabrico relativamente complexo e dispendioso, e muito exigente quanto a grau de especialização e tempo de prática necessários para ser tocado, conferia-lhe alguma fragilidade e menor capacidade de adaptação, neste período tão conturbado, relativamente a outros instrumentos;


Alarico, rei dos Visigodos, saqueando Roma (410 d. C.). Iluminura de 1475 da autoria do mestre François em La Cité de Dieu (Vol. I), Paris, França - Fonte


Genserico, rei dos Vândalos, saqueando Roma (455 d. C.). Pintura de Karl Briullov de 1833-1836. Galeria Tretyakov, Moscovo, Rússia - Fonte


Queda do Império Romano do Ocidente. Odoacro, rei dos Germanos e ex mercenário ao serviço do exército romano (líder das tropas germânicas), depondo o imperador Rómulo Augusto e tornando-se o primeiro rei bárbaro da Itália (476 d. C.) - Fonte


Mapa do reino de Itália governado por Odoacro em 480 d. C. após a queda do Império Romano do Ocidente. Todos os direitos da imagem pertencentes a Talessman's Atlas of World History - Fonte
 

E os que estão associados ao declínio da cultura e religião de raiz helénica e à consolidação da religião cristã:

  • Com a consolidação cada vez mais hegemónica da religião cristã no império, com a abolição do paganismo e com as incursões cada vez mais frequentes das hordas bárbaras, o poder dos clérigos é crescente e inicia-se um processo gradual de proibição e de abolição de muitas das práticas culturais e religiosas anteriores, e de criação de novos códigos religiosos e novos cânones artísticos e culturais;
  • A partir de Constantino II generalizam-se as leis anti-paganismo e iniciam-se as perseguições contra todos os símbolos e praticantes de religiões não cristãs, que têm o seu auge com Teodósio I, que permite inclusive a destruição de templos e o assassinato de sacerdotes pagãos;
  • Se no início do cristianismo no Império Romano, o órgão hidráulico era aceite pelos clérigos e utilizado nas cerimónias religiosas e casamentos, com o tempo começa a ser visto como um instrumento ligado ao paganismo e é abolido nas igrejas. De facto, Ambrósio, bispo de Milão, começa no final do Sec. IV a disseminar na igreja a ideia de que a música é perniciosa, muito em particular quando proveniente de aerofones como o órgão. Mais tarde, Sidonius Apollinaris, bispo de Clermont, tenta mesmo proibir o uso do órgão hidráulico, apesar de permitir o uso de alguns instrumentos de corda, no interior das igrejas e em espectáculos públicos;
  • Dá-se a proibição dos jogos nas arenas, incluindo os jogos olímpicos, as lutas de gladiadores e todos os espectáculos públicos, nos quais o órgão hidráulico tinha um papel de relevo;
  • A biblioteca de Alexandria é parcialmente incendiada e destruída na sequência de uma ordem de Teodósio I para a destruição de uma imagem de Serapis que havia no seu interior. Parte do conhecimento referente aos órgãos hidráulicos pode ter-se perdido durante a destruição;
  • A cultura helénica, incluindo a língua grega e a música, estando associada ao paganismo através da mitologia grega, entram em franco declínio, desaparecendo quase completamente;
  • Teodorico, o Grande, rei dos Ostrogodos, que se tornou rei de Itália (493 d. C.) após ter assassinado Odoacro, reconstruiu o Teatro de Pompeu (um dos teatros principais de Roma), e nele ordenou a execução de vários espectáculos nos quais o órgão hidráulico foi tocado. No entanto, isto terá sido o canto do cisne deste instrumento pois, após a morte de Teodorico (526 d. C.), os edifícios destinados ao teatro em Roma, Ravena, e outras cidades, que resistiram à destruição são abandonados e fechados. O teatro é proibido pela igreja e os actores, músicos e cantores que neles trabalhavam são obrigados a trabalhar como artistas itinerantes. O órgão hidráulico, pela sua dimensão e características, não se coadunava com este tipo de vida e com este tipo de espectáculos.
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    O monge Telemachus sacrificando a sua vida para conseguir a abolição das lutas de gladiadores - Fonte
     
Críptico em marfim de uma sacerdotisa de Ceres (400 d. C.). A cara foi destruída e atirada para um poço em Montier-en-Der, França, num local onde viria a ser construída uma abadia - Fonte
     
    Busto do imperador Germanicus que foi desfigurado por cristãos, com a destruição do nariz e com a gravação de uma cruz na testa - Fonte


Destruição do Serapeum da Biblioteca de Alexandria (c. 391 d. C.) pelos cristãos na sequência da ordem, de Teodósio I, para a destruição da figura de Serapis que existia no seu interior. A biblioteca haveria de ser mais tarde destruída de novo, desta vez pelos árabes, também por motivos religiosos - Fonte


Teodorico, o Grande, rei dos Ostrogodos, assassinando Odoacro durante um banquete em que festejavam a sua aliança e o fim dos combates, e após o que se tornaria governante de Itália, regente dos Visigodos e vice-rei do Império Romano do Oridente (493 d. C.)  - Fonte


Ruínas e modelo do Teatro de Pompeu, em Roma, que foi restaurado por Teodorico, o Grande, no qual ordenou a execução de vários espectáculos em que o órgão hidráulico foi tocado - Fonte 1 Fonte 2


Apesar de ter desaparecido do ocidente, o órgão hidráulico persistiu ainda por vários séculos no Império Romano do Oriente que também viria a cair cerca de 1000 anos mais tarde com a tomada de Constantinopla pelo Império Otomano em 1453 (d. C.)


Aparecimento do órgão pneumático e desaparecimento do órgão hidráulico


É por volta século II d. C. que o órgão pneumático accionado por foles manuais - daí o nome de órgão de foles (designação que prevaleceu até aos nossos dias) - terá surgido no Império Romano do Oriente.
Este órgão parece ter aparecido na sequência de desenvolvimentos tecnológicos relativos aos foles, constituindo uma simplificação do princípio mecânico do órgão hidráulico cuja complexidade, dimensão, custo e grau de exigência técnica necessário ao seu fabrico eram consideráveis. De facto, se os foles usados no fabrico de armas e outras peças metálicas eram conhecidos desde a Grécia antiga, já o sistema de regulação dos mesmos, que permitisse a criação de uma pressão de ar com pouca variabilidade, terá surgido apenas neste período.
Esta simplificação do princípio de funcionamento mecânico do órgão possibilitou a eliminação da necessidade do uso de água no interior do seu mecanismo, o que resultou na redução considerável da dimensão e do peso do instrumento.

O vestígio mais antigo conhecido de um órgão pneumático trata-se de um alto relevo existente na base do obelisco erigido pelo Imperador Teodósio I por volta de 346-395 d. C. em Constantinopla. Nele estão representados dois órgãos pneumáticos sendo tocados, dos quais se pode ver claramente os foles, que estão a ser accionados por ajudantes que parecem ser crianças.


Primeira representação conhecida do órgão pneumático. Base do obelisco erigido em 346-395 d. C. em Constantinopla pelo Imperador Teodósio (O Grande). Istambul, Turquia  - Fonte

Pormenor de músicos tocando órgãos pneumáticos. Ilustração realizada a partir do alto relevo da base do obelisco erigido em 346-395 D.C em Constantinopla pelo Imperador Teodósio (O Grande). Ilustração do The Art of Organ Building, George Ashdown Audsley, Courier Dover Publications (2013) - Fonte



Após o seu surgimento no Império Romano do Oriente, o órgão pneumático ter-se-á espalhado e terá sido usado em todo o Império Romano, havendo evidências da sua coexistência em simultâneo com o órgão hidráulico. De facto, foram encontrados alguns artefactos na Europa nos quais parece estar claramente representado um órgão pneumático.



Desenho de um órgão pneumático feito a partir de um medalhão retirado de um vaso cerâmico romano descoberto em Orange, Dauphiné, Francça, pertencente à colecção de M. Emilien Dumas de Sommières. Encyclopædia Britannica, 11ª ed., Vol. 20, p. 266 (1911) - Fonte



Órgão pneumático. Desenho realizado a partir de uma escultura romana do sec. IV D.C. exposta no Museu de Arles, França. Dictionary of Music and Musicians, vol. 2, p 588 (1900)  - Fonte

Mesmo relativamente a alguns dos achados comummente conotados com o órgão hidráulico (órgãos de Pompeia e órgão de Aquincum) persiste ainda a dúvida, por ausência de evidências claras que apontem num ou noutro sentido, se não se tratam de órgãos pneumáticos.

O que parece claro, no entanto, tendo em conta as referências históricas e os vestígios arqueológicos conhecidos até à data, é que o órgão hidráulico, relativamente ao órgão pneumático, terá tido mais notoriedade no Império Romano do Ocidente, pelo menos nos espectáculos públicos. Talvez pela sua maior dimensão e pelo maior volume sonoro conseguido, o órgão hidráulico se adequasse mais à necessidade de projectar a grandiosidade do império, principalmente em palcos de grandes dimensões vocacionados para espectáculos com uma grande quantidade de espectadores, como é o caso das arenas e dos teatros romanos. De facto, os romanos tinham especial apetência por tudo o que ostentasse um grande porte, o que se reflectia na criação artística. Praticamente todos os instrumentos e recintos de espectáculos cresceram em dimensão e volume durante o império, e o aparecimento do órgão pneumático contraria esta tendência.

O órgão pneumático terá sido mais utilizado no Império Romano do Oriente, onde persistiu após a queda do Império Romano do Ocidente e após o desaparecimento e caída no esquecimento do órgão na Europa. Com o declínio do Império Romano e com a ascensão do Cristianismo, o cânone cultural e artístico sofre uma grande inversão, nomeadamente no que respeita à dimensão dos instrumentos e ao seu volume sonoro. Assim, como o Império Romano do Oriente subsistiu cerca de 1000 anos após a queda do Império Romano do Ocidente, num período em que a igreja controlava grande parte do processo de criação artística, e em que a escassez de recursos era crescente, é no oriente que órgão pneumático ganha, de forma gradual e definitiva, terreno relativamente ao órgão hidráulico, culminando com o desaparecimento deste último.

A expansão do órgão pneumático não se circunscreveu aos limites do império tendo chegado até ao mundo mundo Árabe. No entanto, a sua utilização estava sobretudo limitada às cortes imperiais e aos califados não sendo nesta altura um instrumento aceite nas cerimónias religiosas.


Duas pessoas tocando um órgão de foles (neste caso um órgão positivo). Desenho pertencente a um manuscrito medieval do sec. XIV propriedade do British Museum - Encyclopædia Britannica, 11th ed., Vol. 20, p. 268, British Library, Londres (Inglaterra) - Fonte



Mesmo após o seu aparente desaparecimento, tanto no ocidente como no oriente, já em plena Idade Média, há algumas referências ao órgão hidráulico. Neste desenho pertencente ao Livro de Salmos de Utrecht, escrito no século IX d. C., pode ver-se um órgão hidráulico a ser tocado por dois monges com  quatro ajudantes a accionar as bombas. No entanto, este desenho foi reproduzido, com algumas alterações, várias vezes ao longo do tempo, nomeadamente no livro de salmos de Canterbury (Eadwine) do séc. XII d. C. que difere do desenho original em várias aspectos, muito particularmente no pormenor do mecanismo hidráulico, o que poderá indiciar que o conhecimento relativo a esta tecnologia ter-se-á ido perdendo ao longo da idade média.


6 pessoas (2 músicos e 4 ajudantes) tocando um órgão hidráulico. Detalhe do desenho pertencente ao salmo 150 do livro de salmos de Utrecht (c. séc. IX d. C.). University Library, Utrecht, Holanda - Fonte


Reprodução do desenho anterior. Detalhe do desenho pertencente ao salmo 150 do livro de salmos de Canterbury (Eadwine) (c. séc. XII d. C.). Cambridge Trinity College, Inglaterra - Fonte






Mais informação sobre o órgão neste blogue




Bibliografia




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