Definição e características gerais
O órgão é um aerofone
de teclas em que os sons são produzidos pela vibração do ar que se
obtém fazendo passar ar comprimido por tubos de diferentes comprimentos e
características, e sendo o som controlado
por meio de um teclado que direcciona o ar para os diferentes tubos.
Os
tubos assemelham-se a flautas sendo os mais comuns metálicos ou de
madeira, mas podem ser de outros materiais como o bambu, a cerâmica ou
mesmo o plástico.
O ar é comprimido por um sistema mecânico que pode ser hidráulico ou pneumático.
Os
órgãos da idade média eram pneumáticos sendo dotados de um sistema de
foles que ao serem accionados mantinham o ar comprimido.
Assim,
em termos mecânicos, a diferença de um órgão medieval relativamente à
Flauta de Fan (flauta composta de vários tubos de diferentes
comprimentos que terá sido o instrumento antecessor do órgão) consiste
no facto de o ar ser comprimido não pelo sopro humano mas por meio de
foles accionados manualmente e de o som ser controlado não pela
colocação da boca nos bocais dos tubos mas sim por um teclado.
Órgão portátil
O órgão portátil (portative organ / organetto) tem reduzidas dimensões podendo transportar-se facilmente por uma pessoa com a ajuda de correias ou por duas pessoas.
Este
instrumento é bastante prático e fácil de usar contrariamente aos
outros tipos de órgão e pode ser tocado estando o músico sentado com o
instrumento ao colo
(usando as correias) ou colocando-o em cima de uma mesa.
É, como todos os órgãos da idade média, um instrumento pneumático, sendo o ar movido por um fole
manual instalado na parte traseira do instrumento.
Para se tocar este instrumento uma das mãos tem de controlar o fole enquanto a outra prime as teclas.
Este terá sido o órgão mais usado durante toda a idade média.
Este terá sido o órgão mais usado durante toda a idade média.
Órgão portátil modelo EMS 1ft equipado com correias, fabricado por EMS, Early Music Shop - West Yorkshire, Inglaterra - Fonte |
Órgão portátil construído por Walter Chinaglia (2003) tendo como modelo o órgão representado na pintura de Jan Van Eyck, A Fonte da Vida - Organa di Walter Chinaglia, Cermenate (Itália) - Fonte |
Pormenor de um anjo tocando um órgão portátil retirado da pintura de Jan Van Eyck, A Fonte da Vida - Fonte |
Francesco Landini (1325-1397), compositor, organista, poeta, cantor e construtor de instrumentos italiano tocando um órgão portátil. Iluminura do Codex Squarcialupi (sec. XV) - Fonte |
Vídeo de Martin Herhardt tocando Ce ti gova aus dem do Codex Rossi num órgão portátil construído por Marcus Stahl
Órgão positivo
O órgão positivo
(positive organ) é semelhante ao órgão portátil e tem o mesmo princípio mecânico de
funcionamento mas é de maiores dimensões, significativamente mais
pesado, e está acoplado a uma estrutura de madeira que assenta
directamente no chão
São precisas duas pessoas para se tocar este instrumento pois uma terá de accionar o fole enquanto a outra prime as teclas.
Órgão positivo construído recentemente pelo fabricante de órgãos Neil Richerby tendo como modelo o órgão representado no painel dos músicos do Altar de Ghent da autoria do irmãos Van Eyck (ver imagem mais à frente neste texto) - Lammermuir Pipe Organs, East Lothian (Escócia) - Fonte |
Músico tocando órgão positivo num dos paineis do Altar de Ghent, também conhecido por Altar do Cordeiro de Deus, dos irmãos Hubert e Jan Van Eyck (1432). Catedral de São Bravo, Ghent, Bélgica - Fonte |
Vídeo de Jankees Braaksmade tocando Redeuntes em Re (improvisação) num órgão positivo no concerto de inauguração em Beerta, Holanda, a 31 de Março de 2010
Regal
O regal
(portable reed organ) consiste numa caixa muito estreita com um teclado
instalado na face superior e 2 foles ligados à face traseira.
Mas a grande diferença relativamente aos restantes órgãos da idade média é o facto de não ter tubos. O som é produzido fazendo vibrar palhetas (reeds) no interior de ressonadores. Esta vibração é conseguida fazendo passar o ar comprimido pelos foles através das palhetas. O nome do órgão advém destas palhetas.
Este instrumento, devido ao facto de não ter tubos, tem uma portabilidade ainda maior do que a do órgão portátil mas na maioria dos casos necessita de 2 pessoas para ser tocado, existindo no entanto alguns regais que têm um sistema que permite que o fole seja accionado pelos pés, pernas ou segunda mão do músico, não havendo necessidade, nesse caso, de um ajudante para os controlar. Estes órgãos mais autónomos terão aparecido já mais tarde durante o Renascimento e o Barroco.
Mas a grande diferença relativamente aos restantes órgãos da idade média é o facto de não ter tubos. O som é produzido fazendo vibrar palhetas (reeds) no interior de ressonadores. Esta vibração é conseguida fazendo passar o ar comprimido pelos foles através das palhetas. O nome do órgão advém destas palhetas.
Este instrumento, devido ao facto de não ter tubos, tem uma portabilidade ainda maior do que a do órgão portátil mas na maioria dos casos necessita de 2 pessoas para ser tocado, existindo no entanto alguns regais que têm um sistema que permite que o fole seja accionado pelos pés, pernas ou segunda mão do músico, não havendo necessidade, nesse caso, de um ajudante para os controlar. Estes órgãos mais autónomos terão aparecido já mais tarde durante o Renascimento e o Barroco.
Regal medieval construído recentemente por Werner Bosh (Orgelbau Gmbh) a partir de um órgão de 1685 pertencente ao museu Germanischen, Nuremberga, Alemanha - Fonte |
Regal medieval construído por Wim Dijkstra em 2011
Grande órgão gótico
O
grande órgão gótico consiste num órgão semelhante ao positivo mas de
muito maior dimensão que é instalado de forma fixa e permanente nas
igrejas destinando-se exclusivamente à música sacra. Estes órgãos tinham
apenas um teclado e não tinham pedaleira contrariamente aos seus
sucessores do Renascimento e do Barroco.
Eram normalmente instalados em locais altos e visíveis como os púlpitos, sempre numa posição central nas fachadas que ocupavam perfeitamente enquadrados com as naves das igrejas e catedrais, ostentando uma imponência que ofuscava largamente qualquer outro instrumento conhecido até à data.
Estes órgãos tinham muito mais tubos do que os órgãos positivos e eram peças de arte muito mais trabalhadas do que estes, tendo inclusive os tubos dispostos de tal modo que os seus contornos desenhavam a fachada frontal de igrejas e catedrais. Estavam também ricamente ornamentados com pinturas e com detalhes trabalhados nas madeiras e nas peças metálicas.
Muitos destes órgãos eram também dotados de portas que quando fechadas mantinham os tubos protegidos do pó e de outras agressões do meio ambiente.
Os grandes órgãos góticos, no que diz respeito à estrutura de madeira tinham a característica comum de ostentarem a forma das fachadas de catedrais, tentando tanto quanto possível reproduzir a sua monumentalidade e imponência, e parecendo catedrais em formato mais pequeno dentro dos edifícios que os albergavam.
No entanto, e como nenhum outro instrumento até então, apresentaram uma variabilidade estética e formal considerável da qual se pode destacar alguns aspectos:
Os foles eram de grandes dimensões ou em elevado número comparativamente com os dos órgãos positivos. Estes eram normalmente instalados noutra divisão contígua à nave onde o órgão estava instalado sendo muitas vezes necessário abrir furos na parede para fazer passar as "tubulações" que os ligavam ao órgão.
Para tocar um órgão gótico eram necessários normalmente mais do que um ajudantes para accionar os foles.
Grande órgão gótico construído em 1435, no final da Idade Média, e restaurado recentemente em 1954, pertencente à Basílica de Notre-Dame de Valere em Sion (Suiça). É o órgão mais antigo ainda em funcionamento e encontra-se instalado num púlpito da igreja - Fonte |
Eram normalmente instalados em locais altos e visíveis como os púlpitos, sempre numa posição central nas fachadas que ocupavam perfeitamente enquadrados com as naves das igrejas e catedrais, ostentando uma imponência que ofuscava largamente qualquer outro instrumento conhecido até à data.
Enquadramento do grande órgão gótico na nave principal da Basílica de Notre-Dame de Valere em Sion (Suiça) - Fonte |
Estes órgãos tinham muito mais tubos do que os órgãos positivos e eram peças de arte muito mais trabalhadas do que estes, tendo inclusive os tubos dispostos de tal modo que os seus contornos desenhavam a fachada frontal de igrejas e catedrais. Estavam também ricamente ornamentados com pinturas e com detalhes trabalhados nas madeiras e nas peças metálicas.
Muitos destes órgãos eram também dotados de portas que quando fechadas mantinham os tubos protegidos do pó e de outras agressões do meio ambiente.
Grande órgão gótico de Kiedrich, Alemanha, construído em 1510 - Fonte |
Os grandes órgãos góticos, no que diz respeito à estrutura de madeira tinham a característica comum de ostentarem a forma das fachadas de catedrais, tentando tanto quanto possível reproduzir a sua monumentalidade e imponência, e parecendo catedrais em formato mais pequeno dentro dos edifícios que os albergavam.
No entanto, e como nenhum outro instrumento até então, apresentaram uma variabilidade estética e formal considerável da qual se pode destacar alguns aspectos:
- dimensão muito variável podendo ir deste um tamanho que não excedia em muito o tamanho dos órgãos positivos (órgãos de Sion, Wissel e da Catedral velha de Salamanca por exemplo ) até à monumentalidade dos órgãos de espanhois de Palma de Maiorca e de Saragoça;
- uns dispunham de portas para que os tubos pudessem fica fechados (órgãos de Sion, da Catedral velha de Salamanca, e de Kiedrich, por exemplo) e outros não;
- formato das torres que podia variar entre a prismática assemelhando-se às torres dos castelos medievais (Sion, Catedral Velha de Salamanca, Kiedrich), a piramidal (Palma de Maiorca), cônica (Saragoça), quase cilindrica (Ostönnen), triangular como as igrejas (Sion, Rysun);
- número de torres que podia variar entre 3 (Sion, Wissel, Rysun) até às 5 (Palma de Maiorca, Catedral Velha de Salamanca;
- Torres mais altas dispostas nas extremidades (Catedral Velha de Salamanca, Sion), no centro (Kiedrich, Wissel, Rysun) ou torres de dimensões quase idênticas no centro e nas extremidades (Palma de Maiorca, Saragoça, Ostönnen).
Grande órgão gótico de Palma de Maiorca, Espanha, construído originalmente em 1477, reconstruído em 1795 e restaurado em 1993 - Fonte |
Grande órgão gótico de Palma de Maiorca, Espanha, construído em 1490. Desenho de Arthur George Hill do seu livro The organ-cases and organs of the Middle Ages and Renaissance (1883) - Fonte |
Grande órgão gótico de Wissel, Alemanha construído em 1490. Todos os direitos da imagem pertencentes a Groenling via www.flickr.com - Fonte |
Grande órgão gótico de Wissel, Alemanha construído em 1490. Desenho de Arthur George Hill do seu livro The organ-cases and organs of the Middle Ages and Renaissance (1883) - Fonte |
Os foles eram de grandes dimensões ou em elevado número comparativamente com os dos órgãos positivos. Estes eram normalmente instalados noutra divisão contígua à nave onde o órgão estava instalado sendo muitas vezes necessário abrir furos na parede para fazer passar as "tubulações" que os ligavam ao órgão.
Para tocar um órgão gótico eram necessários normalmente mais do que um ajudantes para accionar os foles.
Foles do grande órgão gótico Basílica de Notre-Dame de Valere em Sion (Suiça) - Fonte |
Foles do grande órgão gótico de Halberstadt, Alemanha, sendo accionados por duas pessoas segurando-se num corrimão. Ilustração do livro Sintagma Musica de Michael Praetorius (1500). Extraído do livro A Popular History of the Art of Music de W. S. B. Mathews (livro disponível no projecto Gutemberg) - Fonte |
Esquema da instalação de um grande órgão gótico e dos seus foles no interior da igreja de Stoke-by-Clare, Inglaterra. Desenho de Martin Renshaw do Barber Institute em Investigating the archaeology of the late medieval organ (2012) - Fonte |
Esquema da instalação de um grande órgão gótico e dos seus foles no interior da igreja de Walberswick, Inglaterra. Desenho de Martin Renshaw do Barber Institute em Investigating the archaeology of the late medieval organ (2012) - Fonte |
Passagens da Vida de Cristo (Tríptico da Crucificação), pintado por Luís Alimbrot em 1440, no qual se pode ver, no painel da esquerda, um órgão gótico instalado no púlpito de uma igreja sendo tocado. Museu do Prado, Madrid, Espanha - Fonte |
O órgão que se crê ser o mais antigo deste período ainda em funcionamento encontra-se instalado num púlpito da Basílica de Notre-Dame de Valere
em Sion na Suiça e terá sido construído em 1435. Este órgão terá sido
comprado para a basílica por Guillaume de Rarogne que mais tarde terá
sido bispo de Sion.
A
sua beleza e simplicidade são notáveis apresentando os tubos dispostos
de forma a que os seus contornos têm a forma de uma igreja.
As
características deste órgão situam-no na transição dos órgãos positivos
da Idade Média para os órgãos de grandes dimensões, com pedais,
característicos do Renascimento e do Barroco.
O órgão
de Sion tem a particularidade única no mundo, que lhe confere um enorme
valor, de manter originais os elementos essenciais do seu mecanismo e
estrutura. Até alguns tubos são os originais da sua construção na Idade
Média.
No entanto, em 1700 este órgão foi transformado para poder
tocar música barroca e sofreu recentemente um restauro (1954) pelo que
não é possível dizer o quão semelhante é o seu som actual relativamente
ao original.
Ainda assim,
dará certamente uma ideia razoavelmente aproximada (talvez a mais
aproximada no mundo) de como soaria no final da Idade Média.
A
organista Diane Bish tocando o órgão mais antigo ainda em funcionamento
do mundo na Basílica de Notre-Dame de Valere em Sion, Suiça. 1ª parte
de um programa de televisão emitido pelo canal Church Cannel
Mais informação sobre o órgão neste blogue